Há exactamente 1548 anos, a 4 de Setembro do ano 476 DC, Flavius Odoacerus obrigou Romulus Augustus, Imperador Romano do Ocidente, a abdicar. Poupou-lhe a vida, porque era um rapaz de 16 anos, alegadamente de feições agradáveis.
Romulus Augustus (conhecido como Augustulus, “o pequeno Augusto”) era apenas uma figura decorativa. Quem mandava era o seu pai, Orestes, um antigo amanuense da corte de Átila, o Huno, que imigrou para Roma, onde conseguiu ser promovido a Magister Militum, um oficial do Império. Orestes encenou uma revolta militar, e proclamou o seu filho de 14 anos como Imperator Romanus, o Pontifex Maximus.
Longe iam os tempos em que Roma prosperava, era o centro do mundo, e continuava a conquistar territórios. Aliás, o fim do Império acabou por acontecer exactamente pelas razões que o levaram a prosperar.
Durante centenas de anos, o Império expandiu-se. A expansão de um Império é necessária não só pela ambição dos seus líderes, mas pela necessidade de garantir e aumentar os recursos disponíveis. A conquista de novos povos, de novos territórios, e de novos recursos minerais e agrícolas é sempre a razão para o aumento do Império. Os recursos em causa podem ser diferentes, mas o motivo são sempre os recursos.
Em 117 d.C. Trajano atingiu a extensão máxima do Império Romano: Desde a Britânia até ao Egipto, e desde a Hispânia até à Mesopotâmia, tudo era Império. Obviamente, não havia cidadãos romanos que chegassem para patrulhar estes territórios, e muito menos as suas fronteiras, para lá das quais estavam os bárbaros inimigos. Assim, a solução foi progressivamente contratar bárbaros para o exército. Os “bárbaros” eram os povos conquistados, mas com o passar do tempo, também os tribos para lá das fronteiras do Império, mas que eram “amigas”.
Para manter um exército que patrulhasse as fronteiras e as terras conquistadas, obviamente era preciso treiná-los e pagar-lhes. Além disso, o Estado Romano tinha vários benefícios sociais para os seus cidadãos: alimentos para os mais desfavorecidos, infraestruturas (se não fosse o Império Romano, quem construiria as estradas?), jogos públicos, e vários programas sociais de apoio à população. De onde vinha o dinheiro? Dos impostos, claro.
E quando os impostos começaram a não ser suficientes, o Imperador Caracalla proclamou em 212 d.C. que todos os habitantes livres do Império (nessa altura fazia-se a distinção entre escravos e homens livres) passariam imediatamente a ser cidadãos do Império Romano, com acesso a todas as benesses e direitos acima mencionados. Claro, passando também a ser obrigados a pagar impostos e a contribuir para os cofres do Estado.
A criação de novos impostos, de um dia para o outro, melhorou as finanças do Império, mas reduziu, imediatamente e para sempre, a disponibilidade de dinheiro que cada cidadão tinha. O aumento inexorável de impostos continuou a reduzir o rendimento disponível de cada cidadão, até que muitos passaram a ser dependentes do Estado, aumentando os seus custos de manutenção, e sendo necessário aumentar os impostos ou arranjar formas mais criativas de aumentar as receitas.
Uma dessas formas criativas era a desvalorização das moedas. Quando os impostos não chegavam, as moedas (em ouro e prata) começaram a ser cortadas e raspadas, de forma a reduzir o seu conteúdo em metais preciosos. Lentamente, as moedas cujo valor real era igual ao seu conteúdo em metal passaram a ser ligeiramente mais pequenas, ligeiramente mais leves ou mesmo adulteradas, colocando outro metal no centro, apenas envolvidas numa pequena camada de prata ou ouro a toda a volta. Como era o Estado a praticá-la, a contrafacção era legal. A redução de valor da moeda circulante provocou um aumento de preços constante, bem como instabilidade económica, e falta de confiança no Governo.
Entretanto, o Império tinha crescido de tal forma que foi necessário dividi-lo em dois, o do Ocidente e o do Oriente. O Imperador já não morava sequer, em Roma. Primeiro mudaram-se para Milão, depois para Ravena, onde estavam longe das guerras provocadas pelos vários generais que pretendiam conquistar terras, poder e eventualmente o trono, bem como das várias invasões de bárbaros que colocavam em causa a segurança do Império. As deposições (normalmente pela força) dos Imperadores sucediam-se.
Os bárbaros, que antes eram guerreiros contratados, de repente tornaram-se uma componente social importante dentro do Império. Os visigodos, vândalos e ostrogodos invadiram e saquearam várias partes do império. Em 410 d.C., depois de dois cercos nos anos anteriores, Alarico finalmente invade e saqueia Roma, precipitando definitivamente o seu declínio. 10 anos depois, a população reduzira para metade, com migrações cada vez maiores de descontentes do Estado do Império.
Resumindo, a História de qualquer outro Império conta-se da mesma forma:
Os pioneiros do Império criam uma identidade e um desenvolvimento tecnológico que permite uma superioridade face a outras nações; Aproveitando a superioridade tecnológica, as conquistas acontecem; Após as conquistas, o comércio desenvolve-se dentro e fora do Império; Com este comércio e a superioridade de recursos a população enriquece; Este enriquecimento permite desenvolver um tipo de vida com menos necessidades físicas, mais intelectual; O afastamento do dever e da necessidade de produzir, focando mais na produção intelectual, muitas vezes fútil, levam à decadência física e moral da sociedade, que levam ao declínio moral, físico, militar, comercial, e finalmente ao colapso.
Após o colapso, novas forças tomam o lugar do antigo Império, agora inexistente e desacreditado. Por vezes o Império será contestado por um Império pretendente claro, noutras (como no caso do Romano), a dissolução implica a reestruturação da ordem em núcleos substancialmente mais pequenos, sem a capacidade de gestão de milhares de pessoas.
Todos os grandes Impérios sofreram este ciclo. Todos nasceram, cresceram, e colapsaram. Desde Roma, ao Império Espanhol, Português, Britânico, Francês, Mongol, os Califatos Abássida e Omíada, Otomanos, Macedónios, todos os Impérios terminaram em declínio, decadência e colapso. Todos foram substituídos. Após a queda, a vida continuou sempre.
A Segunda Guerra Mundial marcou o colapso do maior Império que a Terra tinha conhecido, o Império Britânico, onde o Sol nunca se punha. O Império que sucedeu ao Britânico também está a passar por todos estes estágios. E estamos claramente na fase da decadência.
Feliz Aniversário da Queda do Império Romano!
Bem.
Junto que os Impérios nascem porque não cobram impostos.
O Rei de Petra, foi deposto pela população e os Romanos convidados a fazer uma provincia lá, porque os impostos romanos sobre as provincias eram muito baixos.
O boston tea party foi um golpe fiscal para criar um regime sem impostos federais e concorrencia entre os estados.
O IIReich alemão herdou a prosperidade dos incontáveis cidade-estado que não cobravam impostos para serem competitivas.
E por aí vai.
Os professores de História sabem isso, mas se não houvesse impostos eles tinham de ir trabalhar, então mentem.
Ibn Kaldun.