Nestes tempos de Pós-Modernismo, de grave erosão dos valores morais tradicionais, ligados tradicionalmente à cultura religiosa sobretudo a Católica, é difícil encontrar uma base teórica e prática para uma postura moral.
A base religiosa católica sustenta-se nos lineares e simples 10 Mandamentos:
Fórmula catequética dos Dez Mandamentos
Primeiro: Adorar a Deus e amá-l’O sobre todas as coisas
Segundo: Não invocar o santo nome de Deus em vão
Terceiro: Santificar os Domingos e Festas de Guarda
Quarto: Honrar pai e mãe (e os outros legítimos superiores)
Quinto: Não matar (nem causar outro dano, no corpo ou na alma, a si mesmo ou ao próximo)
Sexto: Guardar castidade nas palavras e nas obras
Sétimo: Não furtar (nem injustamente reter ou danificar os bens do próximo)
Oitavo: Não levantar falsos testemunhos (nem de qualquer outro modo faltar à verdade ou difamar o próximo)
Nono: Guardar castidade nos pensamentos e nos desejos
Décimo: Não cobiçar as coisas alheias
Fruto da guerra cultural em curso contra a metafísica, a teologia e a religião, e no âmbito da dispersão do Materialismo vigente no mundo Pós-Moderno, hoje é quase blasfémia contra o ateísmo, invocar os 10 Mandamentos em público.
Actualmente mostrar que se tem uma posição Moral de base religiosa é maioritariamente visto como "retrógrado", "místico" e "anti-ciència", quando os media e a cultura hollywoodesca inculcam modelos pós-morais onde tudo é "permitido" e se confunde "Liberdade" com "libertinagem" e os limites auto-impostos de um sistema de base Moral são considerados opressivos e repressivos.
Em resposta à dificuldade da postura religiosa num mundo onde Deus estava a ser morto pelo progresso (Nietzsche) Kant tentou objectivar a definição da Moral com base em racionalismo puro, e criou um edifício muito complexo e quase impenetrável que não é apercebido pela maioria dos que o tentam ler, nem pelos não-académicos e público em geral.
E entra a Moral Libertária em campo. Como?
Utilizando dois pressupostos base:
1. Existe algo apelidado "Direito Natural" que antecede a própria conceptualização cultural da arquitectura social. Um Direito do mundo das substâncias ou essência, imanente, relevável pela razão: "descobrível". Os conceitos base derivam da noção de Direito à Vida, Liberdade (no sentido de Livre-Arbítrio), e Propriedade;
2. O Princípio de Não-Agressão, que é a raiz de onde se pode derivar, com o apoio do Direito Natural, todo um edifício Moral autónomo, de modo racional, e que se o Leitor fizer um exercício poderá constatar que inclui os 10 Mandamentos.
"O princípio da não-agressão (PNA) é um princípio moral e ético que proíbe o uso da força ou a agressão contra outros. É um conceito fundamental no libertarianismo, no anarco-capitalismo e no minarquismo, e é frequentemente considerado uma pedra angular destas ideologias.
"O PNA baseia-se na ideia de que os indivíduos têm o direito de viver as suas vidas como bem entenderem, desde que não iniciem a força ou a agressão contra os outros. É frequentemente formulado como uma regra simples: "Ninguém pode iniciar a força contra outro".
O PNA tem sido formulado de várias formas ao longo da história, com diferentes filósofos e pensadores a oferecerem as suas próprias interpretações e aplicações do princípio. Algumas formulações notáveis do PNA incluem:
A formulação de Thomas Jefferson: "A liberdade legítima é a ação desobstruída de acordo com a nossa vontade dentro dos limites traçados à nossa volta pelos direitos iguais dos outros."
A formulação de Auberon Herbert: "O único objetivo legítimo do governo é fazer cumprir 'a lei universal de que nenhum homem pode, pela força, restringir outro no uso das suas faculdades'."
A formulação de Ayn Rand: "O que quer que seja passível de desacordo, há um ato de maldade que não o pode ser, o ato que nenhum homem pode cometer contra outros e que nenhum homem pode sancionar ou perdoar. Enquanto os homens desejarem viver juntos, nenhum homem pode iniciar - estão a ouvir-me? nenhum homem pode iniciar - o uso da força física contra os outros."
A formulação de Murray Rothbard: "Ninguém pode ameaçar ou cometer violência contra a pessoa ou propriedade de outro homem. A violência só pode ser empregue contra o homem que a comete, ou seja, apenas defensivamente contra a violência agressiva de outro."
O PNA tem sido aplicado em vários contextos, incluindo a política, a economia e a ética. É frequentemente utilizado para justificar a abolição do Estado, bem como para criticar a intervenção do governo na economia e na sociedade.
Algumas das principais implicações do PNA incluem:
A proibição da agressão: O PNA proíbe os indivíduos de iniciarem a força ou a agressão contra outros.
O direito à auto-defesa: O PNA permite que os indivíduos se defendam contra a agressão, mas apenas em resposta à iniciação da força.
A proteção da propriedade: O PNA reconhece o direito dos indivíduos a possuir e controlar a sua própria propriedade e proíbe o recurso à força contra a propriedade de outrem.
A limitação do poder do governo: O PNA é frequentemente utilizado para justificar a limitação do poder do governo, uma vez que os governos são vistos como potenciais agressores dos indivíduos e dos seus bens.
Em geral, o princípio da não-agressão é um conceito fundamental no pensamento libertário, e tem sido influente na formação do desenvolvimento do libertarianismo e do anarco-capitalismo."
Esta postura pré-moral e Natural, de princípios lógicos a partir dos quais se pode erguer um edifício de fortaleza Moral dá aos Libertários algo de excepcional e diferente relativamente aos restantes posicionamentos políticos. É que as ideologias pouco entram na questão da ética pessoal, e nada na moral. São prescritivas para comportamento político, social e económico, mas não fundamentadoras de comportamento individual. Sendo o Mundo um agrupamento de muitos grupos de indivíduos, para quem encontra dificuldade na posição religiosa, pode buscar no Libertarianismo um fundo operativo de moral e prática individual, familiar, social, e política.
Na Parte 2 falaremos da “Contratação Livre e do absurdismo do chamado "Contrato Social"”.
João Pereira da Silva
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https://mises.pt/a-simbiose-moral-e-economica/